O avanço dos modelos de inteligência artificial voltados ao raciocínio está mudando a forma como a tecnologia resolve problemas complexos — mas essa evolução tem um custo: o consumo de energia. Um relatório do projeto AI Energy Score revela que sistemas com capacidades de raciocínio semelhantes às humanas podem demandar até 100 vezes mais energia que modelos tradicionais.

Consumo cresce com modelos de raciocínio

Os pesquisadores avaliaram 40 modelos de IA open source, incluindo soluções de OpenAI, Google e Microsoft, e identificaram variações expressivas no gasto energético entre modos com e sem raciocínio. Um exemplo extremo envolve uma versão compacta do modelo R1, da DeepSeek: com o raciocínio desligado, o consumo ficou em apenas 50 watt‑hora; ao ativar o recurso, subiu para 308.186 watt‑hora.

Segundo o estudo, grande parte desse aumento está ligada ao volume de texto gerado por modelos avançados de raciocínio. Esse comportamento melhora a precisão em tarefas complexas, mas também eleva substancialmente a carga nas máquinas que processam as inferências.

Testes e resultados

Para comparar os modelos em condições idênticas, os pesquisadores executaram todos no mesmo hardware, submetendo-os a tarefas que foram de perguntas simples a problemas matemáticos avançados, enquanto monitoravam o consumo em tempo real com a ferramenta CodeCarbon. Entre os resultados destacados estão:

- Phi 4 (Microsoft): salto de 18 para 9.462 watt‑hora com o raciocínio ativado.

- gpt‑oss (OpenAI): variação entre 5.313 e 8.504 watt‑hora, dependendo da intensidade configurada.

Impactos em infraestrutura e meio ambiente

O uso intensivo desses modelos ocorre no mesmo momento em que cresce a expansão de data centers pelo mundo. A competição por instalações maiores já tem efeitos observáveis: em algumas regiões próximas a data centers, o preço da energia chegou a aumentar até 267% ao longo de cinco anos. Além disso, o estudo ressalta que a inferência — a execução dos modelos após o treinamento — vem se tornando a principal fonte de consumo em IA avançada.

Recomendações e alertas

Os autores defendem maior atenção à escolha do modelo adequado para cada tarefa, evitando o uso desnecessário de modelos altamente intensivos quando soluções mais econômicas seriam suficientes. Segundo eles, decisões conscientes podem reduzir de forma significativa tanto o impacto ambiental quanto os custos operacionais.

No debate público, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, afirmou que o setor precisa conquistar a “permissão social para consumir energia”, condicionando esse direito à capacidade da IA de gerar benefícios amplos para a sociedade e impulsionar o crescimento econômico.