A adoção de IA generativa superou a capacidade do mercado de trabalho, e a OpenAI quer reduzir essa lacuna com novos padrões de certificação.
Embora as ferramentas da OpenAI já tenham alcance massivo, muitas organizações ainda não conseguem transformar esse uso em resultados consistentes. Para enfrentar esse desafio, a empresa lançou o programa “AI Foundations”, uma iniciativa estruturada para padronizar como funcionários aprendem e aplicam a tecnologia.
A iniciativa sinaliza uma mudança no ecossistema de fornecedores: sai a fase experimental do “mover-se rápido” e entra a exigência por competências verificáveis. A OpenAI anunciou a meta de certificar 10 milhões de americanos até 2030.
Por que isso importa para trabalhadores e empregadores
A justificativa econômica para treinamentos e certificações em IA está nos dados de salário e produtividade: profissionais com habilidades em IA chegam a ganhar cerca de 50% a mais do que aqueles sem essas competências. Ainda assim, diretores de TI relatam que ganhos de produtividade no papel muitas vezes não se concretizam. Segundo a OpenAI, esses benefícios só aparecem quando as pessoas sabem usar a tecnologia.
Sem orientação, o acesso amplo às ferramentas pode gerar riscos operacionais. A empresa reconhece que a tecnologia é “perturbadora” e deixa muitos em dúvida sobre quais habilidades realmente importam. Ao definir um currículo padrão, a OpenAI pretende ajudar as organizações a capturar as eficiências prometidas pelos seus investimentos em software.
Formato do curso e validação das credenciais
O AI Foundations difere dos módulos tradicionais de LMS corporativo: o curso é entregue diretamente dentro do ChatGPT, que funciona simultaneamente como tutor, espaço de prática e ciclo de feedback. Essa integração permite que os aprendizes executem tarefas reais e recebam correções contextualizadas, em vez de apenas assistir a vídeos passivos.
Ao concluir o programa, o participante recebe um distintivo que certifica “habilidades de IA prontas para o trabalho”, válido como etapa para uma certificação completa da OpenAI. Para dar peso no mercado de trabalho, a OpenAI envolveu Coursera, ETS e Credly by Pearson na validação do rigor psicométrico e no desenho das avaliações.
Pilotos operacionais e impacto no recrutamento
Um consórcio de grandes empregadores e órgãos públicos testará o currículo antes do lançamento mais amplo. Entre os parceiros-piloto estão Walmart, John Deere, Lowe’s, Boston Consulting Group, Russell Reynolds Associates, Upwork, Elevance Health e Accenture. A participação do Gabinete do Governador de Delaware também indica interesse em nível estadual.
Esses parceiros atuam em setores com grande presença operacional — varejo, agricultura e saúde, por exemplo — o que sugere que o treinamento mira funções centrais do negócio, e não apenas posições técnicas. Nos próximos meses, a OpenAI pretende ajustar o curso a partir dos dados desses pilotos para garantir que ele de fato feche a lacuna de competências em IA.
A iniciativa também avança na direção do recrutamento: a empresa está desenvolvendo a “OpenAI Jobs Platform” para conectar profissionais certificados a empregadores. Parcerias com Indeed e Upwork apoiam esse esforço, com o objetivo de facilitar a identificação de candidatos com competências técnicas verificadas. Para gestores de contratação, uma certificação padronizada pode reduzir a dependência de habilidades autorrelatadas, oferecendo uma “evidência portátil” do nível do candidato.
Alinhamento acadêmico e formação de talentos
Além do foco corporativo imediato, a OpenAI busca semear a formação futura. Há um curso “ChatGPT Foundations for Teachers” disponível na Coursera, destinado a formalizar práticas já adotadas por muitos professores — três em cada cinco já usam IA para economizar tempo e personalizar materiais.
Pilotos com a Arizona State University e com o sistema California State University estão criando caminhos para que estudantes possam certificar suas habilidades antes de ingressar no mercado de trabalho, garantindo que os novos graduados cheguem com a verificação “pronta para o trabalho” que empresas vêm começando a exigir.
Implicações para empresas e profissionais
Agora, organizações precisarão decidir entre confiar em certificação oferecida por fornecedores ou continuar desenvolvendo treinamentos internos. A participação de consultorias como Boston Consulting Group e Accenture indica que grandes players reconhecem valor em um padrão externo. À medida que a OpenAI avança para certificar milhões de pessoas, o distintivo de certificação pode tornar-se uma expectativa básica para trabalhadores do conhecimento, semelhante ao domínio de suítes de produtividade em décadas anteriores.