O uso da inteligência artificial na psicologia já é realidade — não mais uma promessa distante. Plataformas como PsicoAI e PsiDigital vêm ajudando profissionais em tarefas práticas do dia a dia, como a transcrição de sessões e a organização de laudos, acelerando processos e aumentando a eficiência do trabalho clínico.
Especialistas deixam claro: essas ferramentas atuam como apoio, e não como substitutas do terapeuta. A IA potencializa a prática clínica ao facilitar a criação de relatórios e a organização de dados, mas a decisão final e o raciocínio clínico permanecem nas mãos do profissional.
Entre as funções mais comuns oferecidas às equipes de saúde mental estão:
- transcrição automática de sessões;
- sugestões de análise sobre a evolução do paciente;
- elaboração de laudos e relatórios estruturados;
- suporte à supervisão e recomendações de abordagens terapêuticas.
“Tem sido muito útil e facilitado bastante a minha vida”, afirma Maísa Brum, psicóloga especializada em avaliação neuropsicológica. Ela relata usar um gravador com IA para transcrever entrevistas e montar uma linha do tempo das informações, apagando os arquivos após o uso. A ferramenta, segundo Maísa, serve apenas como apoio, não como instrumento diagnóstico.
O psicólogo e professor universitário Eduardo Araújo também relata o uso de IA em análise de dados e pesquisas — incluindo seu mestrado com mais de 500 pacientes. “Para esse tipo de tarefa, de análise de dados, acaba sendo muito útil”, diz ele, lembrando que a tecnologia nunca substitui o julgamento clínico.
Apesar dos benefícios, há cuidados éticos importantes. A IA pode criar conteúdos e atividades para pacientes e sugerir abordagens para sessões, como explica a psicóloga Patrícia Mourão De Biase, mas o uso exige consentimento informado do paciente e atenção às questões de confidencialidade. “Ferramentas de transcrição poupam tempo, mas quando a IA começa a se confundir com o terapeuta, surgem questões éticas e de confidencialidade”, alerta o psiquiatra Rodrigo Martins.
Plataformas como a PsiDigital oferecem assistentes virtuais que registram sessões, produzem relatórios detalhados e geram sugestões de intervenção com base em autores renomados. Gustavo Landgraf, criador da ferramenta, ressalta que “a IA só pega o que foi falado, mas não as expressões humanas, do rosto, do corpo. Ela potencializa o tratamento, mas não substitui o terapeuta”.
O Conselho Federal de Psicologia orienta que o profissional deve assumir integralmente a responsabilidade pelo uso dessas ferramentas. Carolina Roseiro, conselheira do órgão, reforça que a mediação humana é imprescindível e que o consentimento do paciente é obrigatório em qualquer etapa do atendimento.
A adoção da IA na psicologia traz desafios éticos e de privacidade, mas já está transformando o cotidiano de profissionais ao reduzir tarefas burocráticas e liberar tempo para o trabalho clínico. A tecnologia não vem para substituir a profissão, mas pode redefinir um modelo de prática mais ágil e integrado às inovações.