Tim Cook está à frente da Apple desde 2011, mas a empresa vive um momento de grande movimentação entre suas lideranças.
Em menos de uma semana, a Apple confirmou a saída de quatro executivos do alto escalão: John Giannandrea, responsável pela área de IA, não seguirá na companhia; Alan Dye, que chefiava o design, aceitou uma oferta da Meta; e Kate Adams (conselheira jurídica-chefe) e Lisa Jackson (vice-presidente de iniciativas sociais) anunciaram aposentadoria. Esse pacote recente se soma a uma lista maior de desembarques nos últimos anos, que incluiu, por exemplo, a aposentadoria de Jeff Williams, ex-diretor de operações. Circulam também rumores sobre uma possível saída de Tim Cook em 2026.
Concorrentes aproveitam para atrair talentos
Parte dessas movimentações tem explicação fora da Apple: Meta e OpenAI têm sido destinos frequentes para ex-funcionários da maçã, muitas vezes oferecendo pacotes atraentes. A Meta contratou, além de Alan Dye, nomes como Ke Yang, que liderava a busca web com IA na Apple, e Ruoming Pang, responsável por modelos de IA. A estratégia da Meta tem sido descrita como agressiva na contratação de profissionais de empresas rivais.
A OpenAI também reforçou seu time com veteranos da Apple: fontes da indústria apontam que cerca de 25 ex-funcionários foram para a divisão de hardware da OpenAI, que ficou sob a liderança de Tang Tan, executivo com 25 anos de experiência na Apple. Além disso, a OpenAI adquiriu a LoveFrom, startup fundada por Jony Ive após sua saída da Apple em 2019; muitos nomes importantes saídos da maçã migraram para a LoveFrom, e Ive hoje trabalha em um dispositivo de hardware concebido para a era da IA.
Atrasos e problemas em IA e design pressionam a empresa
Analistas e reportagens relacionam as saídas a dificuldades da Apple em acompanhar a corrida da IA generativa. A companhia demorou a lançar produtos e serviços apoiados pela tecnologia e, quando lançou, enfrentou críticas sobre qualidade. Um exemplo citado é a nova versão da Siri, anunciada em 2024, que não chegou no prazo previsto e segue sem uma data oficial de lançamento.
A postura mais conservadora adotada pela empresa entre 2023 e 2024 — preocupações sobre polêmicas decorrentes das imprecisões e alucinações típicas de modelos generativos — também atrasou iniciativas. Esses receios se manifestaram em problemas concretos: a funcionalidade Apple Intelligence chegou a gerar alertas de notícias com manchetes falsas, resultado de combinações incorretas de matérias pela IA.
Paralelamente, a Apple recebeu críticas crescentes por perda de atenção a detalhes de design e software, áreas que historicamente foram pontos fortes da marca. Esse desgaste contribuiu para um ambiente de insatisfação interna e movimentos entre executivos.
Reestruturações internas e sinais de mudança
A passagem de John Giannandrea pela Apple, entre 2018 e 2025, foi caracterizada como “tumultuada” por alguns observadores: ele formou uma equipe de pesquisa robusta — algo incomum até então —, mas não conseguiu estabelecer um rumo claro para o departamento de IA. Já a saída de Alan Dye é vista de forma diferente: segundo relatos, a equipe de design recebeu bem a promoção de Stephen Lemay ao posto de chefia. Dye, indicado por Jony Ive em 2015, vinha do universo de branding e publicidade e tinha pouca experiência direta com design de interfaces. Lemay, por sua vez, traz um perfil mais técnico, com conhecimento em design de interfaces e interação.
Com tantas saídas e sem contratações de grande destaque anunciadas, cargos de liderança acabam ficando nas mãos de veteranos; ao mesmo tempo, muitas equipes são compostas por profissionais que não acompanharam momentos decisivos da história da Apple, como o desenvolvimento do iPhone, iPad e Apple Watch. Boa parte desses talentos migrou para concorrentes como Meta e OpenAI, elevando as expectativas em relação aos futuros lançamentos de hardware dessas empresas.
Em resumo, a Apple atravessa um período de transição: pressões externas de concorrentes, atrasos e falhas percebidas em projetos de IA e críticas a design estão redesenhando a estrutura de liderança da empresa e provocando uma renovação que pode alterar sua direção nos próximos anos.