A inteligência artificial está adotando um papel inesperado e promissor: o de parceira criativa. Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Swansea, no Reino Unido, indica que pessoas conseguem criar mais – e melhor – quando trabalham em conjunto com sistemas inteligentes, em vez de usar a tecnologia apenas como uma ferramenta de automação.

O estudo investigou a interação entre humanos e IA em tarefas de design e identificou ganhos que vão muito além de simplesmente agilizar o trabalho. Segundo os pesquisadores, houve aumento de engajamento, maior exploração de possibilidades e um impulso claro na tomada de decisões criativas.

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### Quando a IA deixa de ser só ferramenta e vira parceira

Para chegar a essas conclusões, os cientistas reuniram mais de 800 participantes em um experimento online focado no design de carros virtuais. Diferentemente de sistemas que atuam em segundo plano, fazendo cálculos ou otimizando resultados de forma invisível, essa IA foi projetada para interagir diretamente com os usuários.

Ela utilizou a técnica chamada MAP-Elites para gerar galerias visuais recheadas de alternativas – desde modelos mais eficientes até propostas estranhas, inesperadas e até deliberadamente “imperfeitas”. Em vez de entregar uma única solução “ideal”, o sistema oferecia um leque amplo de possibilidades, incluindo as falhas.

O autor principal do estudo, Dr. Sean Walton, destaca que a visão comum sobre IA ainda é muito limitada, focada apenas em produtividade:

> As pessoas costumam pensar na IA como algo que acelera tarefas ou melhora a eficiência, mas nossas descobertas sugerem algo muito mais interessante.

Ao visualizar as sugestões da IA, os participantes permaneceram mais tempo engajados na atividade, criaram designs considerados melhores e demonstraram maior envolvimento emocional e criativo com a tarefa. Para Walton, o impacto da IA, nesse contexto, não se reduz a fazer mais em menos tempo: trata-se de colaborar, explorar e pensar de forma diferente.

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### Medir criatividade com IA exige novas métricas

Os pesquisadores chamam atenção para um ponto importante: as formas tradicionais de avaliar ferramentas de design não dão conta da complexidade envolvida na colaboração entre humanos e IA. Métricas como contar cliques, medir o tempo de uso ou analisar quantas sugestões são copiadas não capturam aspectos emocionais e cognitivos fundamentais do processo criativo.

Por isso, o estudo propõe uma abordagem mais ampla para entender o papel da IA, considerando, por exemplo:

- como as pessoas se sentem durante a criação;

- de que forma exploram novas ideias;

- como suas escolhas mudam ao longo do processo;

- se conseguem ir além de suas primeiras intuições;

- como evitam ficar presas a uma única solução.

Um dos pontos enfatizados pelo Dr. Walton é a importância da diversidade nas sugestões geradas pelo sistema. Segundo ele, os participantes reagiram melhor às galerias que traziam uma grande variedade de ideias – incluindo as consideradas ruins.

Essa pluralidade de possibilidades ajudou a romper padrões, ampliando o espaço criativo e estimulando a experimentação. Em vez de seguir apenas o “caminho seguro”, muitos usuários se sentiram mais confortáveis para arriscar, testar combinações diferentes e construir projetos mais originais.

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### Ideias boas, ideias ruins — e por que tudo isso importa

O estudo mostra que até as sugestões imperfeitas têm um papel valioso. Ao se deparar com opções estranhas ou mal resolvidas, a pessoa é provocada a refletir, ajustar, descartar, combinar elementos ou tentar algo novo. Esse processo ajuda a:

- evitar a fixação em uma única solução;

- encorajar o pensamento divergente;

- gerar caminhos criativos que talvez não surgissem espontaneamente.

Em outras palavras, a IA não funciona apenas como um “atalho” para o melhor resultado, mas como um gerador de pontos de partida, tensionando a imaginação humana e ampliando o repertório criativo.

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### Um futuro de criação colaborativa entre humanos e IA

Com a inteligência artificial cada vez mais presente em áreas como arquitetura, engenharia, música, design de jogos e diversas outras disciplinas criativas, entender seu impacto sobre a criatividade humana se torna crucial.

Os resultados da pesquisa sugerem que a questão central não é só “o que a IA é capaz de fazer?”, mas “como ela pode nos ajudar a pensar e criar melhor?”. Ao posicionar a IA como parceira em vez de substituta, abre-se espaço para processos criativos:

- mais ousados,

- mais diversos,

- e, ao mesmo tempo, mais eficientes.

A colaboração entre humanos e sistemas inteligentes, segundo o estudo, tem potencial para transformar a maneira como concebemos a própria criatividade — não como um dom isolado, mas como algo que pode ser ampliado, provocado e enriquecido quando interagimos com máquinas projetadas para explorar possibilidades junto conosco.